O setor de saúde já passava por transformações aceleradas desde janeiro de 2015, quando foi publicada a Lei n. 13.097/15, que, dentre diversos assuntos, alterou o art. 23 da Lei n. 8.080/90, permitindo que empresas estrangeiras participem, inclusive como controladoras, dos empreendimentos de assistência à saúde. Essa concorrência do capital externo forçou as empresas de saúde a se reinventarem para serem mais eficientes em sua gestão.
O advento da pandemia levou a administração tanto das operadoras quanto dos hospitais ao seu limite. A pandemia trouxe o imponderável e o imprevisível para a pauta. Os custos assistenciais explodiram, hospitais se viram obrigados a expandir UTIs e a aumentar e treinar equipes, realizar compras de forma mais rápida, lidar com a escassez de insumos e medicamentos.
Esse caos favoreceu a implementação acelerada de tecnologias que já existiam, mas não eram adotadas, caso da telemedicina autorizada em abril de 2020 em caráter excepcional, mas que já estava em discussão há vários anos, sem sucesso.
O isolamento acelerou o uso de plataformas mais completas que visam acompanhar o beneficiário dos planos de saúde em mais pontos de sua jornada como o QUER do sistema Unimed, que incentiva o autocuidado, ou a empresa Laura, que criou um módulo só para rastrear e monitorar a Covid-19 e foi utilizada em massa pela prefeitura de Curitiba (PR).
Companhias do mundo todo enviaram seus funcionários administrativos para o home office, mas o desafio foi muito grande, pois a maioria não estava preparada, e a gestão de equipes ficou complexa. A adoção de plataformas como Asana e Jira foi rápida, como também explodiu a utilização do Zoom e similares. As iniciativas que sofriam resistência para utilização foram adotadas em tempo recorde.
As edtechs tiveram terreno fértil também nas empresas de saúde. Plataformas como a Portalmed tiveram papel fundamental para o treinamento em massa de profissionais de saúde que precisaram ser realocados para novas áreas e funções em curto período de tempo.
As startups brasileiras se beneficiaram deste ambiente, pois conseguiram trazer soluções inovadoras de forma rápida. Estamos num momento borbulhante com a promulgação do Marco Legal das Startups, que dará forças ao Brasil para se tornar relevante no cenário de inovação mundial. O tamanho de nosso mercado, porém, coloca-nos no radar de startups estrangeiras que planejam sua expansão no Brasil.
Esse é o caso da empresa inglesa Huma Therapeutics, que traz o conceito de “hospital em casa” e acaba de levantar US$ 130 milhões na Série C.
Resumidamente, os conselhos nunca foram tão desafiados. O planejamento estratégico adotou metodologias ágeis, pois decisões anuais foram para o lixo e deram lugar a verdadeiras “war rooms” para o enfrentamento da primeira onda, segunda onda, talvez terceira onda?
A pergunta que fica para os conselheiros das empresas de saúde é: quais serão as lições aprendidas? A inovação, a agilidade e a adoção massiva de tecnologias em saúde continuarão sendo prioridade no mundo pós-pandemia? Nas decisões para escolhas das tecnologias fomentaremos as iniciativas caseiras assumindo nosso papel no ecossistema de inovação ou sucumbiremos ao gigantismo internacional, tirando do Brasil a chance de protagonismo?