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O que vem primeiro: a governança da inovação ou a inovação da governança?

O que vem primeiro: a governança da inovação ou a inovação da governança?
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jun. 4 - 5 min de leitura
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Antes da pandemia já era um desafio prever como as tendências sociais, econômicas e culturais impactariam os negócios. Com a chegada da Covid-19 e sem sabermos muito bem por quanto tempo ela afetará nossas vidas e decisões, esse exercício ficou muito mais complexo.

Todos, tanto a alta gerência das companhias quanto os conselhos (consultivos ou de administração), devem ter a humildade de reconhecer que ainda sabem pouco sobre essa pandemia.  A vacinação em massa certamente vai ter um efeito positivo, mas novas cepas e uma porcentagem relevante de pessoas que não vão querer se vacinar podem atrasar o processo de erradicação da doença.

Com isso, a crise sanitária, econômica e social que impacta a forma de fazer negócios e a economia como um todo traz muitas questões que geram reflexos nos rumos da sociedade como um todo e devem ser reconhecidos, discutidos e priorizados pela alta administração das companhias. Esse processo, por ter que considerar certos pontos inéditos, deve ser diferente do que estávamos habituados a fazer. O processo em si já demanda uma dose forte de inovação. Inovação de método, inovação ao quebrar paradigmas e inovação ao agregar opiniões.

Ter que se relacionar com o mundo ao seu redor de forma virtual trouxe no primeiro momento ganho de eficiência. Mas fica cada vez mais claro que o modelo puramente virtual traz desafios, resultado do espaço restrito nas residências e limitações nas interações sociais que podem impactar na construção de decisões que precisam de compartilhamento de ideias e debates mais livres e participativos.

Então, a busca por modelos híbridos mais permanentes e que respeitem as pessoas seja, talvez, a primeira missão da alta gerência e deva ser observada pelos conselhos.

A partir da definição do modelo de como as pessoas vão trabalhar no seu dia a dia, creio que é urgente ter uma revisão sobre o propósito da empresa. Há dois temas que estão na mesa e vão continuar a influenciar de forma central o futuro da sociedade nos próximos anos: o primeiro é o ESG e o segundo diz respeito a como lidar com riscos – aqui, um bom exemplo é a segurança cibernética.

A pandemia trouxe questionamentos muito mais profundos sobre diversidade e inclusão, temas que precisam ser reconhecidos e bem gerenciados nos níveis mais altos da companhia para que possam ser incorporados de forma cada vez mais natural nas relações sociais internas e externas. Isso vai permitir que iniciativas inovadoras brotem em ambientes que estimulem a criatividade e o debate construtivo.

Um outro componente a partir da definição do propósito é sobre como tratar de forma positiva as ações sociais junto aos diversos públicos relacionados (stakeholders) no lado de fora e a responsabilidade na solução mais efetiva da questão ambiental. Isso pede uma estrutura de governança mais efetiva, assertiva e prática do que antes.

Quanto ao segundo tema, que é o gerenciamento de riscos em geral, temos que trazê-lo também para a mesa da alta administração. Aqui, vou me ater ao exemplo da segurança cibernética. A magnitude dos dados que passam pela companhia devem ser protegidos e preservados de ataques que passaram a ser parte do dia a dia. Também precisamos de políticas que assegurem o bom uso de tais dados e a confiança nas instituições.

Todas essas questões têm que ser encaradas por formas diferentes de se fazer as coisas. É aí que entra a inovação. E o que vem primeiro? A governança da inovação ou a inovação da governança? Na verdade, as duas trilhas são importantes. Mas vou ser audacioso e dizer que sem inovarmos na governança, arriscamos não ter sucesso em relação a uma boa governança na inovação.

As demandas por avanços da governança corporativa nos últimos anos permitiu que a forma, muitas vezes, vencesse a substância. Está na hora de pensarmos em como dar vida à substância, ou seja, como construir arcabouços que não engessam as decisões mas permitam que, seguindo os princípios de transparência e equidade, soluções efetivas sejam alcançadas.

Em suma, os conselhos e a alta administração devem repensar urgentemente sua governança para que revejam o propósito do negócio dentro de parâmetros que incorporem questões ESG e lidem melhor com os riscos que podem impactar negativamente a sua reputação.


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