Estamos vivendo agora a revolução 4.0, em que a informação e a conectividade são o novo “ouro”. E neste contexto de interatividade social globalizada, por mais paradoxal que seja, o conceito de singularidade do indivíduo é levado na mais alta conta, pois quanto mais visões e lentes tivermos na sociedade, maiores serão as chances de inovação e desenvolvimento como um todo humano. Sim, cada um de nós, hoje, com suas idiossincrasias e peculiaridades, é importante no novo mosaico da sociedade humana. Por isso, os temas de diversidade e sustentabilidade estão em alta voga.
É neste ínterim que o próprio autor Raj Sisodia fala sobre a presença do feminino e do masculino no mundo corporativo quando diz: “as energias masculinas, na maioria das empresas, vêm da hipermasculinidade. Não é uma masculinidade madura. Dominação, agressão e competição excessiva são alguns dos aspectos. Tudo se transforma em um jogo ou em uma batalha. A masculinidade madura e positiva está relacionada a aspectos como foco, resiliência, força, estrutura e coragem. Precisamos disso. Mas, na ausência do feminino para contrabalançar, o masculino se torna hiperativo.”
Isto posto, gosto de pensar no homem e na mulher como o Yin Yang. Segundo este princípio filosófico e religioso da cultura chinesa, existem duas forças opostas, mas complementares, essenciais no universo: a energia yin, associada ao feminino, a escuridão, a passividade e a terra; e a energia yang, ligada ao masculino, a luz, o ativo e o céu. De acordo com essa filosofia, ambas as energias são necessárias para manter o equilíbrio universal. Afinal de contas, todos nascemos da relação de um pai com uma mãe. Esta interdependência biológica deveria ser considerada também nas relações institucionais.
Seguindo nesta linha, temos os multi-stakeholders trabalhando em conjunto e o novo papel das empresas como instituição para construir uma nova era, comandando, inclusive, ações que outrora eram apenas de governos. E para manter a sustentabilidade das companhias temos que levar em consideração uma regra master do planeta Terra: ou você é imortal, ou se reproduz. Por óbvio, estamos na segunda categoria!
A natureza não achou uma forma dos organismos vivos viverem para sempre. Então inventou a reprodução para garantir a continuidade das espécies, como se os nossos genes vivessem e morressem e vivessem novamente num ciclo infinito. E inventou também uma maneira inteligente dos seres terem mais chances de evoluírem com suas características vencedoras ao colocar esta reprodução dependente de 2 seres, um masculino e um feminino. Podemos (e devemos) seguir esta lei orgânica na condução dos negócios nas companhias reproduzindo modelos vencedores, transmitindo conhecimento valioso para as próximas gerações e criando novas cepas de companhias e stakeholders.
SOMOS HUMANOS
Além das sete maiores ameaças a nossa sociedade elencadas pelo nosso mestre Anderson Godz na aula da Trilha Poder, Governos e Moveholders com o tema Movimentos e Comunidade, gostaria de adicionar uma oitava: a potencial perda da nossa humanidade. Sim, no afã de construir modelos eficientes assessorados por tecnologias avançadas de AI, Machine Learning e Deep Learning, estamos cada vez mais almejando a perfeição, e esta palavra simplesmente não combina com humanidade. Somos imperfeitos e esta característica nos torna únicos e com uma vantagem competitiva fantástica em relação aos outros seres vivos do planeta: como somos imperfeitos, erramos, e como erramos, aprendemos com nossos erros. Por consequência, somos capazes de gerar soluções para sanar os erros e, assim, evoluímos.
Existe uma diversidade eclética no erro muito mais do que no acerto, visto que este último é filho de processos fundamentados e de conhecimentos estruturados e bem documentados. Não estou aqui fazendo nenhuma apologia à anarquia ou a desordem. Estou, sim, apenas reconhecendo a humanidade intrínseca nos erros que todos nós, humanos, cometemos.
LEARNING COMMUNITY
O que falar de uma Learning Community? Além de estar aprendendo muito e me relacionando com pessoas incríveis neste Master Novo Poder, penso na nossa atuação não apenas como conselheiros, mas em nosso papel no mundo. Gosto de pensar que antes de sermos brasileiros (e cariocas, paulistas, gaúchos, ou mesmo americanos, franceses, alemães, chineses ou russos) somos todos terráqueos. Fazemos parte de um organismo maior - o sistema orgânico do planeta. E se tratando deste nosso lar imenso chamado Terra, creio que devamos lembrar das leis da natureza que estamos vivenciando, algumas vezes sem perceber.
1) A natureza é centrada na comunidade. Nenhum ser vivo é o líder, CEO, ou membro do conselho. Todos são acionistas, todos contribuem e todos recebem dividendos em forma de oxigênio, energia solar, abrigo e nutrientes para sobrevivência. De fato, esta comunidade está num estágio além de Learning Community - é o Live Community.
2) VUCA não é uma expressão moderna para a natureza. Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade são o "normal" desde sempre. E a Natureza aprende e evolui com essas condições - e nós humanos também!
3) Na natureza tudo que interage inevitavelmente se une, aglomera e liga. E assim partimos de protozoários e chegamos aos mamíferos gigantes. Também assim é a evolução das organizações sociais na história da humanidade, de pequenas aldeias a cidades, de pequenos armazéns a grandes corporações, de grupos de trabalhadores a sindicatos e, modernamente, na evolução das companhias com shareholders e então conselhos e, atualmente, com a importância de todos os stakeholders, inclusive governos.
MEU DESAFIO
Qual maior desafio espero resolver após este programa? Ser conselheira de inovação em empresas no Brasil e nos EUA, com um pensamento aberto e dinâmico sobre todas as tendências, considerando o impacto dos players de tecnologia emergentes (genética, nanotech, robótica, IA, Data Science, Machine Learning, etc.) neste novo ecossistema de poder pós eras agrícola, industrial e digital. Criar futuros, e não apenas imaginá-los!
E para dar leveza neste desafio, gosto de pensar no aprendizado que advém de movimentos cíclicos da humanidade, num ballet parecido com os movimentos de rotação e translação do nosso planeta e dos movimentos de expansão e explosão das galáxias. Me alinho a Cazuza na icônica poesia “O Tempo Não Para” quando cita; “Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades”. E erijo um brinde ao contraditório na bela estrofe dos Titãns que dá nome à música: “A melhor banda de todos os tempos da última semana. O melhor disco brasileiro de música americana. O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado. O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos”.
Estou, particularmente, feliz em viver neste estágio da evolução humana. A sociedade 5.0 que emerge é muito mais colaborativa, diversa, variável, flexível, criativa e dá espaço para muito mais inovações. Estou absolutamente consciente do poder de um aprendizado em comunidade para nos tornarmos cada vez mais independentes, protagonistas e influentes neste novo contexto em que a inovação inspira a governança - e a governança, por sua vez, habilita a inovação.