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O paradigma entre lucro e inovação

O paradigma entre lucro e inovação
Anderson Godz
out. 11 - 5 min de leitura
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Na era das startups a lógica de lucro versus valor ganha uma nova roupagem. Empresas que se mostram promissoras podem ver seu valor crescer antes mesmo de começarem a ser lucrativas – foi o caso da Netflix, Uber, entre tantas outras.

 

Mas não gerar lucro significa que o valor da empresa não é real?  Na verdade, o valor é “irreal” quando não é possível demonstrar o lifetime value (LTV) da empresa, tampouco seu tempo de retorno; comprovar que não existe LTV é uma tarefa difícil, que exige destrinchar muitos números, já que não existe base contábil para isso. No caso da Uber, a questão é o LTV e o custo de aquisição de clientes (CAC). 

 

Se a empresa não considerar o retorno em tempos futuros para o cálculo de uma oportunidade de aquisição de clientes, ela pode acreditar que seu CAC precisa ser muito menor do que ele potencialmente pode ser – e seu LTV/CAC não é usado para auferir a saúde e o potencial de uma startup. 

 

Investir um CAC alto para atrair um cliente traz o risco de que ele não chegue ao LTV esperado. Mas desconsiderar o LTV é um erro ainda maior. Assim, empresas de alto LTV e CAC, mas com LTV longo, tornam-se automaticamente lucrativas quando elas são capazes de manter o aumento de base de clientes. Ou seja, a Uber terá lucro quando conseguir manter essa ampliação em sua base.

 

Mas assim como o CAC e o LTV a empresa também precisa considerar quanto tempo um motorista continuará trabalhando e dando receita. A chave é encontrar um equilíbrio para colocar contadores e investidores na mesma página.

Por outro lado, a grande sacada da Uber, que adiciona valor à marca e empresa, é seu day asset (ativo do dia): o valor que a empresa oferece para resolver uma necessidade diária de um usuário. 

Esse conceito é explicado com mais detalhes no livro Governança & Nova Economia, mas aqui podemos observar que o day asset do Uber está no where you go (aonde você vai), em suprir a necessidade de transporte rápido e conveniente que pode surgir a qualquer momento do dia, todos os dias: é o day asset que coloca valor na Uber mesmo sem a empresa trazer lucro. E é ele que pode ser o salto para a companhia, enfim, se tornar lucrativa.

Ainda assim, empresas que não geram lucro começam a enfrentar dificuldades quando chega a hora de abrir capital. O processo de IPO, em que elas usam os bancos como intermediários para atrair investidores e vender ações pela primeira vez, pode pivotar sonhos em pesadelos para startups não lucrativas.

 

Foi o caso da WeWork, que teve o IPO adiado, e da Peloton, que foi punida com preços em queda de 4% e negociou ações em 15% abaixo do preço do IPO no mês passado. Essa falta de confiança do mercado é, parte, reflexo de uma visão tradicional que, no passado, esperava que as companhias apresentassem lucro após 18 meses de operação. Mas também pode ser a descrença  dos investidores de que esse talvez não seja mais um modelo tão vencedor.

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O fato é que hoje o padrão de contabilizar a inovação deveria ser mais discutido, ainda existe a expectativa de lucro, mesmo que seja em um cronograma futuro. Isso não mudou! 

 

No caso de empresas como Uber e Lyft, pode não haver um cronograma definido, isto pode dificultar respostas positivas de investidores.

 

Como resposta aos padrões muitas vezes rígidos do IPO, as startups estão apostando em outros modelos de abertura de capital. O principal deles hoje é o direct listing, modelo usado recentemente por empresas como Spotify e Slack para fugir da sub-avaliação do IPO tradicional.

Essa sub-avaliação foi explicada em um estudo do professor da University of Florida, Jay Ritter, conhecido como Mr. IPO. Na pesquisa ele mostra que apenas em 2018 as empresas deixaram de ganhar US$ 7 bilhões por causa da sub-avaliaçãodos bancos na hora de abrir o capital.

Por outro lado, no direct listing os bancos são retirados do papel de intermediário e as ações são negociadas direto na bolsa, com preço inicial definido por leilão com base em oferta e demanda.

 

O direct listing pode não ser a melhor opção para qualquer startup; o valor negociado depende de outros fatores, como a relevância da empresa no mercado. Mas pode ser a saída para nomes como Uber e Lyft antes de um M&A com os autônomos da Tesla... mas isso é pauta pra outro texto 😉.


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