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Novos negócios: a governança e seus aspectos fundamentais

Novos negócios: a governança e seus aspectos fundamentais
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jun. 24 - 10 min de leitura
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A velocidade das relações mudou! Você já percebeu? Estamos vivenciando um importante momento de transformação na forma como nos relacionamos enquanto pessoas, bem como na dinâmica de gestão dos negócios. Novas abordagens, novos comportamentos. Uma nova dinâmica e um convite para fazer evoluir as práticas de governança. A transformação digital acelerou os caminhos para a nova economia.

Não é tão recente assim que a transformação digital vem se tornando um meio de forte evolução da sociedade. Com a chegada do vasto mundo online e da Internet de forma intensa e acelerada, as organizações foram direcionadas a inovar e uma infinidade de novos negócios surgem a todo o momento.

Esta dinâmica, além de essencial, foi acelerada, intensificada, com a pandemia do novo coronavírus. Houve uma verdadeira antecipação de práticas que ainda estavam nas prateleiras das empresas ou que sequer eram pensadas. O futuro parece ter ficado mais próximo, as pessoas foram impulsionadas a operar suas atividades profissionais e levar sua vida pessoal pelo meio digital. A saída do ambiente físico das organizações levou muitas empresas a intensificarem a presença digital e estruturá-la da melhor forma para perpetuar seus negócios ou até mesmo criar novas formas de vender seus produtos e serviços. Novas práticas de relacionamento online com os clientes foram estabelecidas, por serem a única via de comunicação nessa fase crítica.

Nesse contexto, tendências apontadas para o futuro próximo passam pela mudança das relações, promovem uma reflexão direta nos modelos de negócios e, em um sentido mais amplo, na constituição de empresas inovadoras que já nascem em um ambiente digital e não passam por uma digitalização do presencial, realidade presente em diversos negócios atuais.

Já discutimos bastante sobre o termo “nova economia”, utilizado muito antes de todo esse movimento digital intensificado pela pandemia. É notória, no entanto, nessa nova fase, a amplificação do surgimento de novos negócios, principalmente orientados pela inovação. Com um papel importante na busca por soluções que resolvam problemas, simplifiquem processos, coloquem o cliente no centro e eliminem diversos nós de um emaranhado de etapas criadas por organizações tradicionais, as startups surgem de maneira exponencial.

É nítido nos diversos pitchs dessas novas empresas a utilização de termos como “simplificar”, “descomplicar”, “velocidade”, “online”, “aplicativo”, “fácil”, “melhor experiência”, “menores custos”, “humanização” e tantos outros. Basicamente, um modelo que vai na direção contrária do tradicional, da economia linear, e gera apetite para novos empreendedores com alto potencial criativo. Além disso, trata-se de boa alternativa para colaborar em um ambiente de inovação aberta, capitaneado pelas grandes empresas.

Ocorre que somente ideia, energia e potencial de execução dos principais indivíduos não são suficientes para criação, experimentação, crescimento e outras fases subsequentes da nova empresa. Certa governança é fundamental desde a sua concepção, muitas vezes rabiscada em guardanapos de bar, durante uma reunião de amigos. Uma grande ideia embasará um possível negócio de sucesso no futuro, mas sozinha ela não permanecerá.

Após aquele momento de “vamos em frente”, tem início uma certa pressão para conceber o modus operandi, definir o MVP (minimum viable product), potenciais clientes, tornar o negócio monetizável, captar recursos financeiros ou montar uma boa equipe. Por outro lado, pouco se investe em conversar sobre a fundação de qualquer estrutura: afinidade dos sócios, princípios, alinhamentos, valores e outros elementos fundamentais plenamente descritos na primeira parte do ebook “Board Canvas”. Muitas vezes, o foco é fazer o novo negócio acontecer (“o quê?”), sendo que o “quem” é pouco explorado, de forma inversa ao que Jim Collins explorou em seu livro “Empresas Feitas para Vencer”: first who, then what.

Falar sobre princípios, propósito dos sócios, modelo de relacionamento, responsabilidades, alinhamento, crenças, pensamentos, conhecimento dos valores dos envolvidos, objetivos do negócio e dedicação é condição imprescindível para as fases após o “guardanapo de bar”. É legítimo assumir que é uma atividade muitas vezes sensível, na qual as questões difíceis são colocadas à mesa, mas é fundamental para o avanço (ou não) do negócio. Essa etapa, por sua vez, constitui a formação de uma base sólida e duradoura que permitirá um crescimento organizado e orientado para as questões fundamentais que pressupõem a razão de ser de um negócio. Sócios alinhados por princípios e propósito estarão aptos para seguir no processo de escala do negócio.

Passada a fase inicial de bootstrapping, começa o movimento de aceleração, momento em que inúmeros questionamentos sobre o negócio se tornam cada vez mais intensos. Fundadores são bombardeados por todo o lado. Se a fase inicial não tiver sido bem estabelecida, há grande chance de o negócio não prosperar ou gerar dor de cabeça por situações antes não discutidas. Esse é um desafio de governança!

Neste grupo de trabalho, levantamos algumas questões importantes que podem ser exploradas em conjunto com os sócios durante o avanço da constituição do negócio. Listamos em três blocos principais: soft skills dos founders; questões iniciais de estabelecimento do negócio; e apoio na constituição da pessoa jurídica e estrutura.

Soft skills dos founders

É um assunto amplo, composto de diversas competências e suas características, mas fundamental para estabelecer o relacionamento duradouro entre os componentes da empresa. Listamos, de maneira resumida, quais aspectos devem ser, no mínimo, abordados nas rodadas iniciais de conversas sobre a fundação da organização.

Fonte: https://blog.betrybe.com/soft-skills/

Entendemos que essas discussões iniciais de princípios vão além do negócio, fundamentalmente concentradas nos sócios. Entender como cada um “funciona” é importante para exercitar tais competências quando o negócio assim exigir. Todo esse debate acerca das competências necessárias a serem desenvolvidas pelos conselheiros de novos conselhos, se assim podemos chamar, passa por um entendimento claro sobre um olhar mais humano para essas relações. Competências técnicas, as hard skills, sustentam uma parte do desenvolvimento do negócio mas, hoje, princípios e valores organizacionais estão amplamente alinhados com as competências apresentadas acima. Concluímos que esses aspectos são fundamentais para o “dia zero”.

Questões iniciais de estabelecimento do negócio

Os conselhos orientados por princípios e propósito de uma organização compõem um locus necessário à tomada de decisão, e assim devem considerar o seu papel de monitorar, incentivar e desenvolver tal organização. Uma vez fortalecida em sua base, as decisões tomadas estarão orientadas para lidar em ambientes incertos, voláteis, ambíguos e complexos em uma estrutura de governança mais preparada.

Algumas situações podem ser direcionadas pelos conselheiros aos sócios, abordando as seguintes questões:

  • O time de gestão está preparado para lidar com situações complexas?
  • Quais são os melhores caminhos? Reinvestir? Ampliar? Reter? Vender?
  • Estamos considerando os principais cenários que geram valor duradouro para os stakeholders?
  • O propósito do negócio está sendo considerado na decisão tomada?
  • Somos ágeis e capazes de entregar o que nos propusemos a fazer?
  • Estamos inovando? Buscamos renda ou equity? Este é o melhor caminho?
  • Somos conselheiros capazes de nos colocar na posição do executivo para alcançar os objetivos propostos?
  • Inteligência emocional, flexibilidade cognitiva e solução de problemas complexos estão na pauta da organização?
  • Como reagir em tempos de dificuldade? Quem lidera as discussões difíceis? A equipe está preparada? Há inteligência emocional nos sócios para sustentar uma mudança de rota, se for o caso?
  • Quem decide pelo negócio?
  • Como é a disponibilidade de tempo e capacidade de trabalhar em equipe?
  • Entender de gerenciamento de risco.
  • Saber organizar reuniões, definir pautas e prioridades.

Há uma infinidade de questões que ainda podem ser direcionadas, a fim de esclarecer possíveis lacunas. Por outro lado, é importante colocar o negócio em prática e ir aperfeiçoando os detalhes, à medida que as situações aparecem, com o devido acompanhamento.

Apoio na constituição da pessoa jurídica e estrutura

Mesmo sendo uma organização criada em tempos de transformação digital, tal aceleração e/ou simplificação ainda não atingiu órgãos públicos ou instituições necessárias para efetivar o estabelecimento da empresa. Muitos processos administrativos, jurídicos e tributários, em diferentes esferas, necessitam ser seguidos para que o negócio possa operar adequadamente.

É bastante comum identificar nas startups founders que não possuem experiência em questões jurídicas. Esse apoio, portanto, torna-se imprescindível ainda na fase inicial da organização.

Outras questões de estrutura também são fundamentais para a operação, como o estabelecimento de rotinas, definição de objetivos, medição através de OKRs (Objectives and Key Results) e outras situações de monitoramento do negócio. São nessas situações, muitas vezes, que os sócios avaliam desempenho, movimentos e próximos passos de seguimento do plano inicialmente traçado.

Como abordado nos diversos aspectos acima, conceber uma nova organização de sucesso não é tão simples quanto parece. Certa governança por princípios é fundamental para definir as regras do jogo, para que os indivíduos possam atuar em sua maior parte do tempo focados em prosperá-la.

Assim, na ocorrência do aconselhamento de organizações que apresentam diversos aspectos relacionados acima ainda em aberto, sugere-se foco total em cobrir os gaps existentes visando o pleno alinhamento de uma Governança por Princípios, cuja tomada de decisões busque promover discussões que possam consumir certa energia e concorrer com o andamento das atividades, impactando na geração de alto valor percebido que consolide o propósito e princípios basilares da fundação da organização.

Pode-se dizer que uma empresa bem enraizada, com princípios e valores profundamente esclarecidos entre os sócios, possui grande alavanca para seguir como um só corpo em direção aos desafios da sua proposta inicial.


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