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Governança para uma nova economia

Governança para uma nova economia
courtnay guimaraes junior
mar. 4 - 8 min de leitura
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Vivemos numa era de amplitude, de exuberância (desta vez racional), de grandes globais oportunidades de transformação e num ritmo freneticamente exponencial. Frase bombástica, repetida ao extremo, criadora de hype e hiper expectativas, tanto por investidores, empreendedores e mercado em geral (1).

Mas, é verdade!

A questão é que por trás desta verdade incitante, existe a distopia mais cruel em todos os ciclos de crescimento humano: o excesso de confiança em vão. Explico.

A era das expectativas infladas, mas reais.

Estamos numa era de expansão humana em vários sentidos. A pós-globalização abriu um leque imenso de novos negócios, em sua maioria digitais, mas já se apoiando no velho conceito digital-brincks-and-mortar, quando a economia compartilhada passou a ser o mote das pós-plataformas, que se utilizam de recursos físicos de terceiros para exercer seu modelo de negócios (uber, airbnb, etc).

Até a economia criativa foi abarcada, quando plataformas de conteúdo por assinatura (youtube premium, spotify, Netflix) saíram do tradicionalíssimo modelo de advertising para o de freemium paid subscription.

Num momento X, qualquer boa sacada de mercado pode ganhar o mundo (literalmente) e atingir os mercados bilionários (de um bilhão de clientes), se tornando seres mitológicos:

· Unicórnios (empresas que são avaliadas em mais de um bilhão de dólares);

· Minotauros (empresas que captam mais de um bilhão de dólares);

· Centauros (empresas que atingem o valuation acima de um trilhão de dólares);

Só escolher o seu.

A mesma era, em modo VUCA, produzindo apenas… Experimentos.

Como toda utopia produz efeitos inesperados (e algumas vezes indesejados), mergulhamos de cabeça numa espiral acelerada e acelerante, movida por 1029381031 ondas de inovação em paralelo e como consequência, aceleramos o período das tecnocracias, com expectativas de mais e mais “accelerando” (2) no horizonte já imediato — este ano (3).

Neste ritmo novo de viver a inovação e transformação, ate pelo curto prazo de adaptação de todos nós (fenômeno de uns 5 anos para cá), uma nova disfunção ganhou até acrônimo chick: VUCA. Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade são o novo estado de espirito, quase que em modo constante, seja em startups ou empresas estabelecidas que tentam monitorar de onde vem o próximo tsunami.

Perguntas simples se tornaram extremamente complexas:

· Qual o tamanho do nosso mercado alvo? Aliás, como definimos o mercado alvo? (pense nesta pergunta em janeiro de 2017, para o mercado cripto, depois pense novamente hoje…)

· Quem é nosso “customer persona”? Ou quais são ?

· Que plataforma tecnológica podemos utilizar pelos próximos 5 anos?

· Qual a melhor estratégia de funding?

· Qual a melhor composição de talentos? Com qual cultura devemos seguir?

Por essas e muitas outras, a vida de todos virou navegação de rally de velocidade! (4)

Um pouco de esteroides na mistura

E além de tudo isso, desde 2017 vivemos um outro componente explosivo, nessa alquimia já volátil: as possibilidades globais dos crypto ativos!

Se você estava num retiro espiritual e não sabe o que se passou nos últimos 2 anos, além de um mercado que saiu de 6 bilhões, chegou a 850 e voltou a 125 bilhões (5), tivemos uma avalanche de projetos que dependendo da métrica arrecadaram entre 28 a 37 bilhões de dólares neste período (6).

Isto, aliado a uma verdadeira guerra tributária entre paraísos fiscais e domicílios fiscais que entenderam que ORIGINAR esses ativos pode ser um negócio do século para países que adotarem e facilitarem a nova maneira de originar valor (7).

E assim chegamos ao nosso cenário: Alta velocidade, alta octanagem e navegação multi-dimensional de jornadas empresariais!

A necessidade de guias direcionais e coordenadas mais amplas

Com este pano de fundo, atingimos o âmago do nosso questionamento: Navegar deve ser preciso, como já diria Fernando Pessoa, portanto, como navegar nesta nova realidade?

Antes de mais nada, focando no universo de startups, empresas jovens e que objetivam um grande potencial de crescimento, entender que estas jornadas são complexas e exigem um time diverso, com vários níveis de maturidade e quanto mais divergente for em experiências, melhor.

Mais que isso, confrontar as necessidades de mudança o quanto antes é a decisão mais importante de qualquer founder. Casos como empresas que cresceram rápido e vislumbraram um processo de abertura de capital (seja um tradicional IPO ou um revolucionário ETO) que exige melhores e mais sólidos processos de governança, para se surpreender com o nível de “policia”, “interferência”, “crítica” ou “desendeusamento” são comuns há séculos, não é novidade recente.

Ferramentas como o Board Canvas (8) são um ótimo ponto de partida, no que tange a simplificar, condensar e demonstrar claramente os pontos importantes. Digamos, um painel de controle, sem o qual falta foco.

Bolhas (9) em tentativas de “dar um jeitinho” nessas novas realidades também são comuns.

Mas, o mais importante, além de decidir mudar, é manter o foco e o ritmo. O que nos leva a…

Slowly at first… then suddenly (10)

A frase atribuída a trocentas situações, inclusive falência de empresas, pessoas e países, pode e deve ser utilizada no sentido reverso, de estruturação e construção de jornadas culturais.

Nesta era de amplitude, recursos e pessoas extremamente capacitadas são facilmente conectáveis a organizações de todos os portes, dependendo apenas da vontade e intenção de seus líderes. E talvez aí que more o problema…

“Slowly at first”, founders devem encarar a realidade que crescer aceleradamente traz desafios inusitados, em tempos atuais mais ainda (11) e admitir que é necessário ajuda externa, não em forma de consultoria, é o primeiro passo.

“Easier said than done” dirão todos, mas “toda jornada começa com o primeiro passo”, diria o mestre zen. Portanto, as pressões empurram a todos em dois movimentos aparentemente antagônicos, mas que na prática são forças ascendentes em espiral: Ao mesmo tempo que há uma criação de possibilidades (empresas, mercados, modelos de negócios, etc), a mortalidade nessa criação exponencial é igualmente imensa!

E os fatores de pressão (11) se tornam cada vez menos definidos, portanto, decidir, coordenar e seguir a organização é cada vez uma atividade de crescente soma de conhecimentos e mudança dos mesmos.

Na prática…

Apesar de não acreditar em “code is law”, o avento de redes distribuídas e criptográficas (blockchains) traz uma nova luz: um ambiente de mediação digital, neutro e com regras de negócio transparentes e até uma decisão drástica, irrevogáveis.

Claro, com exemplos de empresas 100% tecnológicas, as coisas ficam mais facilmente administráveis. O caso mais recente é o do MelonPort Protocol, que ao montar um padrão de governança do projeto (12) o fez num forte esquema de incentivos econômicos (13) que possibilitou uma jornada de migração para um modelo realmente aberto e em comunidade (14), onde não apenas a continuidade do código seria mantida por um conselho formal e externo a todo o trabalho anterior (15) como a própria administração de todo o processo seria em uma plataforma outra, específica para este fim (16).

Não se sabe ainda se o potencial de plataformas como o Aragon (17) pode se estender a plataformas que envolvam diretamente serviços ao consumidor, como o concorrente do Uber, o Arcade City (18), mas é um bom começo

Como diz a praga chinesa, vivemos em tempos interessantes. Que as lições de Phill Jackson nos guiem no caminho sereno da iluminação! (19)

p.s. Este tópico será amplamente explorado em nosso MasterClass de Março!

http://masterclass.goneweconomy.com/programa

Courtnay Guimarães Jr, pai, esposo, empreendedor, cientista e facilitador de aprendizado.34 anos de experiência no mercado de ITC, com passagens por Oracle, SAP, HP, Vivo, Cargill e outras. Projetos e resultados em clientes como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Banco Central, Ambev, BTG Pactual e outras.

No momento, é Cientista Chefe, CTO e sócio fundador da Idea Partners, consultoria e participações.

Referências

(1) https://www.youtube.com/watch?v=awxPKtY3enY

(2) https://www.amazon.com/Accelerando-Singularity-Charles-Stross/dp/0441014151

(3) https://frankdiana.net/2019/01/07/what-to-expect-in-2019/

(4) https://www.youtube.com/watch?v=OcwbexpPMAk

(5) https://coinmarketcap.com/charts/

(6) https://elementus.io/blog/ico-market-august-2018/

(7) https://www.bakermckenzie.com/en/insight/publications/2018/04/the-crypto-valleys-the-regulatory-battle

(8) https://goneweconomy.com/blog/boardcanvas

(9) https://medium.com/@soufron/the-startup-governance-bubble-be28b9cc0fd4

(10) October 17, 2013 Santiago, Chile

“How did you go bankrupt?” Bill asked.

“Two ways,” Mike said. “Gradually and then suddenly.”

The dialogue above is from Ernest Hemingway’s 1926 novel, The Sun Also Rises.

(11)https://goneweconomy.com/ebook10fatores

(12)https://medium.com/melonport-blog/introduction-to-the-melon-governance-system-f6ff73c70eb0

(13) https://medium.com/melonport-blog/melonomics-part-1-aligning-interests-through-token-unification-d0b98a02de46

(14) https://techcrunch.com/2019/02/11/melonport-dissolves-in-favor-of-its-protocol-setting-a-new-bar-for-the-blockchain-world/

(15) https://medium.com/melonport-blog/melon-council-unveiled-at-m-1-ae87d999b7ba

(16) https://medium.com/melonport-blog/melon-will-run-its-decentralized-governance-on-aragon-9f7935693720

(17) https://aragon.org/network

a. https://github.com/aragon/whitepaper

b. https://blog.aragon.org/introducing-aragonos-say-hi-to-modular-and-extendable-organizations-8555af1076f3/

(18) https://arcade.city/

a. https://blog.arcade.city/decentralization-and-the-future-of-ridesharing-29d8f84a4ea7

(19)https://thepowermoves.com/eleven-rings-summary/


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