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Futuros conselheiros: cola, falta de empenho ou um grito contra a estagnação?

Futuros conselheiros: cola, falta de empenho ou um grito contra a estagnação?
Renata frischer vilenky
jul. 28 - 5 min de leitura
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No primeiro ciclo de perguntas que realizamos com jovens entre 13 e 18 anos no âmbito do Programa Mini Master da Comunidade Gonew.co, foi muito bom ler sobre o quanto eles se sentem influenciados por seus familiares e professores.

Também foi interessante perceber que, mesmo com essa valorização de exemplos, mais da metade dos entrevistados, quando questionados sobre passar cola na escola, responderam que passariam, desde que não fossem prejudicados. Mas será que passar cola não prejudica tanto quem passa quanto quem recebe? Vamos pensar só um pouquinho:

  1. Quem precisa de cola, a princípio, não estudou;
  2. Quem não estuda, não aprende e, portanto, não se desenvolve;
  3. Quem está preocupado apenas com a nota de uma prova se preocupa realmente com o seu presente e com o seu futuro? Sua vida será baseada em copiar a vida de alguém?
  4. Quem passa a cola, passará cola pelo resto da vida aos seus amigos? Foi assumida a responsabilidade do colega de se formar?
  5. Toda ação gera uma reação. Que compromisso os jovens assumem entre si quando passam cola um para o outro? Que expectativa é criada entre eles? Trata-se de uma troca real entre amigos? Qual é o valor dessa amizade?

Segundo pesquisa do Portal Educa Mais Brasil publicada em maio de 2018, mais de 51% dos jovens do Ensino Médio colam em suas provas.

Como podemos dizer que nossos jovens estão se preparando para o futuro, se, segundo pesquisa da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico), baseada no relatório do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2018, “a nova geração de cidadãos exige não apenas fortes habilidades acadêmicas, mas também curiosidade, imaginação, empatia, empreendedorismo e resiliência (...). Eles vão precisar de autoconfiança e determinação para criar seu próprio emprego e gerenciar suas carreiras de novas formas”.

Esse processo não é simples. Mas se a escola fomentasse a participação dos alunos em processos de transformação, não poderia criar empreendedores dentro da sala de aula, a partir de mudança no formato das avaliações? E se permitisse aos alunos que colaborassem com a criação de suas aulas, incentivando a pesquisa em novas formas de aprendizagem, com temas mais atuais e métodos diferenciados?

Se os nossos respondentes já informaram anteriormente que querem, em sua maioria, ser empreendedores e que desejam chamar amigos para trabalhar e montar seus negócios, por que não trazer este espírito para dentro da sala de aula e desde o Ensino Médio? Por que não começar a criar modelos de jogos de negócios, em que os alunos aprendam as matérias por meio da coleta de dados, por exemplo, e avaliem decisões tomadas ao longo da história, partindo de uma perspectiva de cientista de dados?

Se nesse modelo estabelecermos como ponto de partida a colaboração – todos precisam participar, pesquisar e trazer suas propostas – será que teremos a cola? Será que a mudança do modelo de ensino pode mudar o comportamento dos alunos em sala de aula?

Analisando nossa pesquisa, a maioria dos jovens disseram gostar de regras claras para realizar tarefas e que aceitam seus erros, procurando aprender com eles. Tendo isso em mente, que tal transformarmos a escola num grande laboratório de empreendedorismo, onde as regras de avaliação são apresentadas de forma transparente e, principalmente, são pautadas em aprendizado real e preparo para vida e mercado de trabalho?

A educação escolar tem sofrido ao longo dos anos em nosso país. Pesquisa publicada recentemente, resultado da parceria da Fundação Roberto Marinho com o Insper, apontou que o país perde R$ 214 bilhões por ano por deixar que 17,5% dos jovens não concluam o Ensino Médio. No fim de 2020, segundo o levantamento, 575 mil jovens não concluirão a Educação Básica.

Por isso, são atitudes como reavaliar o modelo de ensino, permitir que os jovens participem da transformação da educação e escutar as propostas das diferentes perspectivas que temos em nossa sociedade que nos permitirão mudar, a partir de agora, o cenário brasileiro de escolarização e educação. Quem sabe, daqui a 20 ou 30 anos, conseguiremos olhar para trás e nos orgulharmos de ter participado do momento em que nossa história começou a ser reescrita.

Convidamos pais, educadores, jovens que estão ou não em sala de aula e demais interessados no assunto para participar desse processo de transformação, que vai muito além de extinguir a cola. Trata-se de processo que busca preparar a sociedade para o enfrentamento do “novo normal”, com conhecimento, colaboração, aprendizado e transformação contínua focada nos jovens. Por meio de sua curiosidade e estudo, os adolescentes são capazes de entregar soluções que mudam nosso presente e possibilitam a democratização da educação.

Os jovens de hoje serão ou não conselheiros em um breve futuro. O dilema, porém, permanece: como prepará-los para os desafios e funções que uma governança moderna vai exigir?


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