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Como reposicionar o Brasil

Como reposicionar o Brasil
Renata Figueiredo
ago. 4 - 5 min de leitura
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A atual colocação do Brasil no Global Innovation Index – 66ª posição na edição de 2019, num ranking com 129 países –, poderia falar bastante sobre a estratégia nacional para a inovação. Ocorre que o fato demonstra, infelizmente e na verdade, a falta de uma.

As diferentes dimensões do relatório nos fornecem vários insights sobre nossa estrutura de inovação e os recursos correspondentes, bem como nos lembra de desafios internos que já conhecemos. Muitas vezes, porém, acabamos não correlacionando os impactos negativos de tais desafios ao desenvolvimento da inovação e do empreendedorismo.

Uma das conclusões que nos fazem refletir diz respeito ao fato de que precisamos melhorar a relação entre esforço e resultado. Isso porque não estamos tão mal ranqueados no quesito Gastos de P&D, o que não acontece nos itens Produtos de Conhecimento e Tecnologia e Produtos Criativos.

Esse ponto pode ser fruto do nosso longo histórico de pouca conexão entre universidades e empresas, que faz com que parte das pesquisas não tenham aplicação prática ou voltem-se  às necessidades do mercado. As pesquisas de base são importantíssimas, mas talvez não virem um produto comercializável, um negócio de fato. Isso por conta da desconexão e ausência de canais eficientes para que essa transformação ocorra. Incubadoras de universidades, bolsas e cátedras empresariais e desafios de empresas voltados a estudantes são algumas iniciativas que podem fortalecer esse tipo de parceria.

Certamente, porém, precisamos investir mais nos ecossistemas de inovação, conectando centros de pesquisas, empresas, investidores, startups, aceleradoras e hubs de inovação, proporcionando uma interação fluida e uma rede de trabalho coesa. Os países que são referência em inovação entenderam que precisam criar um ambiente favorável e de estímulo às atividades inovadoras. Leis, políticas públicas, programas de governo, disponibilidade de financiamento e a atuação das instituições de ciência e tecnologia precisam estar coordenadas na direção correta, aumentando constantemente o número de participantes no ecossistema.

Outro indicador no qual estamos mal posicionados no Global Innovation Index refere-se à quantidade de graduados em Ciências e Engenharia, as já famosas carreiras STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics). A oferta de capital humano adequado é um dos principais entraves mesmo nos países que possuem a inovação como foco na busca pelo desenvolvimento econômico. Nossa percentagem de graduados nessas áreas é a menor de todos os países do BRICS.

Mas acredito que o currículo brasileiro tem outra lacuna significativa, que é a formação de empreendedores. Historicamente, não temos uma cultura que incentive as novas gerações a empreender: juros altos, burocracia e a inexistência desse tema nos currículos escolares e universitários causou no país um gap enorme de interessados em inovar e tentar novos modelos de negócio. Não é à toa que também estamos mal posicionados no item Facilidade de Fazer Negócios. Somente recentemente conseguimos nos recuperar e observar que a geração mais nova tem se aventurado nessa carreira.

É claro que o fomento de um ecossistema interativo e vibrante e o investimento em capital humano nas áreas de STEM formam a base necessária para que uma estratégia nacional de inovação se desenvolva. Mas o Brasil também carece de um “branding”, de uma marca do país mais associada à inovação, a fim de atrair mais investidores, talentos e parceiros. Devíamos escolher eixos estratégicos para liderar e sermos referência em inovação, que possam aproveitar algumas das nossas características e nos diferenciem no mercado internacional, tais como agronegócio, biotecnologia, energia renovável, etc.

Ainda dentro do conceito de branding, devíamos aproveitar o fato de sermos sede regional de grandes empresas globais para termos um ambiente e estímulos corretos para atrair os centros de pesquisa e inovação dessas empresas, como é o caso da SAP e seu Centro de Inovação dentro do Parque Tecnológico da Unisinos, em São Leopoldo (RS).

Esses são somente alguns dos pontos que enfraquecem o posicionamento do Brasil em relação ao cenário global de inovação. Falta de mindset global e pouco encorajamento ao desenvolvimento de startups (grandes geradoras de empregos) são ainda outros fatores que nos limitam na busca de prosperidade e competitividade pela via da inovação.

Ao mesmo tempo, nesse momento de pandemia e crise, as taxas de juros nunca foram tão baixas no país, o que tende a trazer um volume enorme de investidores com maior apetite ao risco para manterem suas taxas de retorno. Esse panorama nunca foi tão favorável para a inovação e para o empreendedorismo, mesmo num ambiente ainda subotimizado como o Brasil.


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