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Como o conselho deve se colocar em relação às tendências de mercado?

Como o conselho deve se colocar em relação às tendências de mercado?
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out. 15 - 7 min de leitura
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*Por Ingo Reis, Francisco Milagres, Yuri Sonoda e Karin Mickenhagen

Uma empresa é um grupo de pessoas com objetivos em comum. Sociedade é um grupo de pessoas que convivem em colaboração mútua. A semelhança das definições nos dicionários condiz com a atual exigência da sociedade sobre as empresas – sintonia de valores positivos com retorno financeiro. A própria Constituição brasileira de 1988 determina que a propriedade atenderá à função social.

Iniciativas como o Capitalismo Consciente e Empresas Humanizadas têm como objetivo fazer com que os negócios tornem o mundo um lugar melhor, atendendo à expectativa crescente de ética nos negócios.

O mercado dos produtos de bem-estar e qualidade de vida para a sociedade segue em alta com exemplos de mobilidade, cidades inteligentes e muita colaboração, com base na mentalidade da abundância. A sinergia entre as soluções já é vivenciada em drones de entrega de produtos que fornecem dados para a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

E tudo isso não é discurso vazio! As empresas prontas para o futuro já sabem que somente com propósitos autênticos a cultura da empresa se materializa em produtos com identidade de marca e características que façam sentido para os consumidores.

Desafios

O filme The Social Dilemma apresenta uma preocupação com o alcance do poder das redes sociais sobre o curso da história e da vida das pessoas. Um dos principais impactos das inovações tecnológicas é o acúmulo de poder nas mãos de pequenos grupos, mesmo quando a concepção e o desenvolvimento não tenham esse objetivo direto, levando a quebras na sociedade e polarização das opiniões, dificultando o ambiente de colaboração.

De forma diferente e por ser algo ainda sem precedentes na história recente, ainda são tímidas as previsões do impacto da pandemia do Covid-19 sobre os relacionamentos humanos e sobre as relações entre países e conglomerados. Mas já é certo que a dinâmica do mundo dos negócios será alterada de forma perene, especialmente com o crescimento da crença de que o mundo é VUCA (sigla em inglês para Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo).

Predomina um entendimento de que as inovações tecnológicas por si só não são suficientes e que a transformação para um desenvolvimento sustentável não pode ser obtida sem inovações sociais. Lembrando que as inovações sociais, bem como as tecnológicas, nascem em pequenas iniciativas. Um questionamento fundamental de José Ortega y Gasset – “Quién manda en el mundo?” – lembra-nos da necessidade de equilibrar as análises do impacto das ações de indivíduos com planos de poder na cultura das pessoas. Essa dificuldade de balanceamento traz desafios para a visibilidade das pressões do ambiente sobre o regime socio-tecnológico e da relevância das inovações na criação de janelas de oportunidades.

Adicionalmente, em um mundo com recursos cada vez mais abundantes e com uma economia que não mais deve em longo prazo remunerar a maioria dos produtos pela posse mas sim pelo acesso, há um cenário cada vez mais plano para a concorrência global. Atualmente, startups possuem potencialmente acesso aos mesmos talentos, informações, recursos técnicos e financeiros que grandes corporações e, comparativamente, um indivíduo em 2020 possui com um smartphone acesso a mais informação que qualquer grande conquistador de impérios do início da era moderna da civilização.

É nesse cenário que a decisão de compra (ou não) está cada vez mais centrada na escolha das pessoas, ao contrário do acesso pela escassez de recursos, por exemplo, no início da era industrial, quando Henry Ford dizia que seus clientes poderiam comprar o novo Ford Modelo T em qualquer cor, desde que fosse preto.

Além da cor, hoje o consumidor escolhe a relevância do carro em sua vida, o verdadeiro significado de mobilidade, o impacto no meio ambiente e também as montadoras que contribuem para a sociedade de forma legítima.

Posicionamento do conselho

É notório que os conselhos que vislumbram construir organizações prontas para o futuro precisam agir já para se posicionarem em diversas frentes, em resposta a esses desafios, considerando a inovação como uma responsabilidade chave para a perpetuação de organizações com propósitos equilibrados entre as partes internas e a sociedade.

Uma das funções dos conselhos é dar visibilidade para que as empresas consigam passar por ambientes diversos, no médio e longo prazo. Em cenários de tendências/incertezas, compreender a origem das tendências e seus possíveis impactos aumenta a previsibilidade a ponto de se questionar o quanto o mundo realmente é volátil e incerto.

Para determinar janelas de oportunidades com base em análises realistas, o nível de conhecimento deve ser elevado ao ponto de se obter consciência de seus próprios limites e em quais assuntos especialistas são necessários para complementar a visão e, especialmente, a dinâmica de mudança da visão.

Encontrar espaços de diferenciação e criar opções para que a empresa se prepare de forma dinâmica para o futuro passa pela resolução do paradoxo escassez versus abundância. 

Um exemplo de sucesso da colaboração é o das cooperativas. O sétimo princípio cooperativista é o interesse pela comunidade. O papel do conselho engloba fomentar formas de fazer parte do sucesso retornar a quem realmente foi importante e ajudou no crescimento do seu empreendimento - a comunidade onde está inserido. Princípios legítimos com transparência se revertem em longevidade. Atualmente, podemos agregar que inovar também é pensar diferente. Esse é o princípio da mudança: reavaliar o pensamento, o planejamento e por consequência as ações.

Para exercitar os elementos da ética na utilização da tecnologia, três prismas se complementam. A importância da ética, no exemplo do maquinista que pode desviar o trem prestes a atingir um grupo de crianças, mas que se desviar irá atingir a própria mãe. A fonte de poder, desde quando armas e propriedades perderam espaço para a informação como fator decisivo nos destinos da sociedade. A inteligência artificial, que não passa de burrice em alta velocidade, que sem ética seu fruto é potencialmente trágico (Isaac Asimov sobre as Três Leis da Robótica). Se em self-driving cars já é trabalhoso, ainda mais em self-driving companies.

Visto que a sociedade é composta por indivíduos, podemos dizer que ela é um dos mais relevantes stakeholders de uma empresa. Uma coisa é certa: a noção de que a natureza é de todos e para todos e por isso indivíduos, sociedade, empresas e governos têm que trabalhar na busca de uma solução comum para um mundo mais transformador, baseado na integração da economia, ecologia e desenvolvimento social.

As empresas têm um papel ativo na criação de um mundo melhor e o conselho deve sempre questionar qual é a contribuição e qual é o legado da empresa para a sociedade.


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