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Moveholders, Twitter e filhos: a nova confidencialidade

Moveholders, Twitter e filhos: a nova confidencialidade
Anderson Godz
abr. 2 - 5 min de leitura
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Não é só Trumps, Bolsonaros e filhos! Tweets são um dos desafios de governança sobre confidencialidade, seja Elon Musk ou o exemplo recente de Steve Wozniack: "a Apple não é líder na área de telefones dobráveis, e isso me preocupa, porque eu realmente quero um telefone dobrável". 

A hiperexposição trouxe também uma fronteira “hipertênue” entre se posicionar e se expor. Isto tanto para organizações como para pessoas, até porque essas duas coisas estão completamente embaralhadas agora. 

Elon Musk é mais trend topic por conta de seus tweets que desafiam a SEC do que sobre seus grandes feitos. Exemplo recente, a SpaceX, que lançou ao espaço a Crew Dragon. Um momento marcante para a exploração espacial pois, pela primeira vez, uma nave privada feita para levar astronautas chegou à órbita terrestre. Mas os perigosos tweets de Musk foram mais longe. Dias antes, ele postou as previsões da Tesla sobre produzir 500 mil carros em 2019, e logo depois publicou um novo tweet de “retificação”, dizendo que produziria 500 mil carros mas que enviaria para as concessionárias apenas 400 mil. 

O problema é que tanto Musk como a Tesla foram proibidos de divulgar informações e pagaram U$ 20 milhões em multas cada um depois que, em setembro de 2018, ele tuitou que havia garantido fundos para fechar o capital da empresa — uma informação tida como mentirosa, mas que fez com que as ações da Tesla subissem muito na abertura do mercado. 

Na nova governança o desafio da confidencialidade não é só porque estamos mais expostos, ou hiperexpostos. Com empresas e pessoas embaralhadas e, em crescimento exponencial, ficou mais difícil também estabelecer padrões e regras de confidencialidade. E mais, está definitivamente mais complicado diferenciar o que é protagonismo do que é ego.

Quem faz acontecer na nova economia assume ser vidraça, uma gigantesca vidraça na verdade, visível em qualquer parte do globo (e se depender de Musk, logo em Marte). Mas peraí... quem protagoniza errará mais, certo? Todos dizem que empresas e pessoas precisam e irão falhar mais... Que paradoxo! Em tempos de hiperexposição, alta conectividade e negócios em rede, nossos stakeholders e shareholders viraram MOVEHOLDERS. 

Mais erros e moveholders geram uma espiral de efeitos colaterais sem controle, reações e ideologias infladas para todos os cantos, multiplicam se argumentos pra qualquer teoria míope e enviezada, e tudo acaba ruindo bons propósitos... Como é difícil ser vidraça (ops, protagonista) nesses tempos hein!? 

E tudo precisa ser compartilhado, em linha com o “O novo poder”, de Timms e Heimans e seu acrônimo ACE, que já escrevi por aqui (ideias Acionáveis, Conectadas e Extensíveis). O ACE desafia a governança com protagonismo do quase ego e com a necessidade de um novo tipo de conduta pessoal e empresarial sobre confidencialidade. A Lei Geral de Proteção de Dados, o Marco Legal para Startups e a recente Publicação de Governança para Startups do IBGC são importantes, mas no sentido do “Novo Poder”, são apenas o “wi-fi dessa pirâmide de maslow”. Aliás, a  publicação de Governança para Startups do IBGC, no pilar de propriedade intelectual, alerta: “como mecanismos de defesa de seus interesses, a empresa deve estar atenta à atuação de ex-sócios, conselheiros ou executivos que estejam sujeitos a obrigações e deveres de confidencialidade ou não competição, buscando prevenir e monitorar atos de concorrência desleal que possam prejudicar o negócio.”

Mas o jogo é mais sútil. Na primeira vez que fui ao Vale, há três anos, estava investindo em um novo negócio de economia colaborativa. Aproveitei a oportunidade para falar com outros investidores, mas não estava habituado a esse jogo, sobretudo no mercado americano. Logo na primeira agenda, entendi isso muito bem. Comecei dizendo ao investidor que tinha uma grande ideia na mão e apresentei alguns números do mercado. Rapidamente saquei um NDA (non disclosure agreement). Assim que o coloquei na mesa, o investidor se levantou e, antes de ir embora, disse-me apenas uma coisa: “você não é daqui, certo?".

A confidencialidade na veloz economia deve ser sagaz. Não deve servir para evitar que informações sejam compartilhadas, mas tampouco para divulgar algo que realmente não deva ser divulgado. O problema é que sequer discutimos o tema, não há mais tempo. Então a solução é ter valores bem alinhados no que empreende ou investe e discutir esses pontos através do Board Canvas. Se isto é feito provavelmente irá tratar melhor seus moveholders e o seu twitter. Já quanto aos filhos, não é tão simples mesmo. Nosso presidente que o diga.

 


 Anderson Godz, Curador da Comunidade e Autor do Livro Governança & Nova Economia. Investidor, Advisor, Conselheiro de Administração pela FDC, IBGC e Mestre em Governança Corporativa e Sustentabilidade. Criador do Board Canvas e do MasterClass G&NE, o mais inovador programa brasileiro de governança para a nova economia. 

Participe dos próximos eventos da Comunidade! 


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