A inovação tornou-se um fator fundamental para o sucesso do crescimento dos países através da capacidade de exportar produtos e serviços de alta qualidade, com produtividade e em grande escala. E estas marcas são alcançadas através de organizações com modelos de negócios, dinâmicas competitivas e estruturas de mercados, que lideram e alcançam posições de vanguarda nas diversas indústrias em que atuam.
O Brasil assistiu no século passado, os países do leste asiático como Coréia do Sul, Indonésia, Taiwan, Singapura e Malásia, usarem uma fórmula vencedora que trouxe um crescimento admirável e transformador para estas nações. O investimento maciço em educação, em programas profissionalizantes, universitários, conjugados com a atração de empresas transnacionais, produziram tração na demanda de mão de obra qualificada.
Este movimento enriqueceu toda cadeia local de fornecedores e proporcionou a absorção de novos conhecimentos técnicos por meio de programas de inovação com a transferência de tecnologia estrangeira.
Entre os desafios e reflexões trazidos ao nosso país pelo cenário pós covid-19, podemos perceber uma inédita conjugação de fatores econômicos, geopolíticos, e sociais que oferecem uma oportunidade ao Brasil de acelerar o seu nível de inovação. Descobrimos recentemente que é possível agir com respostas rápidas, e mudar a triste realidade imposta aos grupos mais vulneráveis de brasileiros durante a pandemia.
A atuação rápida e conjunta da sociedade civil, empresas e governos, auxiliados por startups e o uso da tecnologia, fizeram a diferença nestes desafiadores meses de 2020. Como exemplo, a Caixa desenvolveu, em tempo recorde um app que obteve 212 milhões downloads e disponibilizou o auxílio emergencial para quase 96 milhões de pessoas - a grande parte delas desbancancarizadas.
Alguns fatores que favorecem o Brasil neste momento:
- O real é a moeda que foi mais desvalorizada frente ao dólar norte-americano em 2020, cerca de 40%, favorecendo as exportações e incentivando o investimento estrangeiro;
- A taxa Selic em 2% ao ano estimula investimento local em economia real, infraestrutura e consumo;
- O programa de privatizações e concessões previsto para 2020-2022 deve atrair novas oportunidades de investimento em infraestrutura e concessões com a utilização de novas tecnologias e investimento em inovação;
- O mercado de crédito brasileiro representa 47% do PIB, tendo ainda muito espaço para crescer. O Banco Central tem incentivado a abertura deste mercado para fintechs e outras instituições estrangeiras que queiram entrar no mercado de crédito brasileiro;
- O Brasil tem as principais matérias primas necessárias para indústria, energia abundante e limpa, grandes reservas de petróleo e gás, água, e não tem sofrido desastres climáticos significativos;
- A pandemia mostrou a urgente necessidade de desconcentração e o grande risco da dependência global da produção industrial na China. Tivemos como exemplo o cancelamento do lançamento do novo iPhone por falta de peças;
- Estamos atravessando um período de extrema liquidez nos mercados globais.
Duas alternativas para o Brasil desenvolver a Inovação nesta janela de oportunidade:
- Investir e incentivar o investimento em “inovação criadora de mercado", criando produtos e soluções simples para sua população mal atendida. Lembremos que o nosso país é quinto mais populoso do mundo, com o mercado interno em franco crescimento e 234 milhões de smartphones. Temos o exemplo da solução já citado, do atendimento do auxílio emergencial. Este tipo de inovação traz soluções rápidas e fontes de crescimento, cria impacto socioambiental positivo; elas atraem, ainda, recursos, investimentos em infraestruturas necessárias e geram empregos para atender uma população maior de clientes, criando demanda para mão de obra, que busca educação para se qualificar e assim gera mais mercado... um círculo virtuoso. Estas soluções podem ser usadas em outros países da América do Sul, por exemplo. A China tem usado este modelo na África, criando soluções para populações de baixa renda para utilizar em outros mercados, mais maduros.
- Ser mais atuante nas cadeias globais de valor (CGVs), com políticas bem definidas incentivando estes players a investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que são coordenadas pelas empresas líderes em seus segmentos, de grande porte, com contratos de longo prazo. Este movimento exige acima de tudo, boas negociações e fontes de investimento em bens de capital para cadeia de fornecedores locais, além de qualificação de mão de obra. Os fatores favoráveis que citamos estão alinhados para este movimento. O objetivo final é produzir efeito semelhante aos tigres asiáticos, que não foi possível anteriormente no Brasil devido à instabilidade econômica, moratória e reserva de mercado, que nos afetaram no século 20.
Mas há quem diga que não tivemos boas experiências em projetos similares onde não houveram incrementos significativos no investimento em P&D, como o o Projeto Inovar-Auto. Neste caso, entre 2013 a 2017, os investimentos passaram de 0,65% para 1,5% do faturamento médio das montadoras envolvidas.
Mas temos também cases de sucesso, como o de Santa Rita do Sapucaí, o “Vale da Eletrônica”, no interior do estado de Minas, onde 150 empresas faturam juntas R$ 3,2 bilhões e investem 9% do seu faturamento em P&D. Em 2018 foi regulamentada a Lei da Ciência, Inovação e Tecnologia e, no mesmo ano, o Brasil ficou em 9° lugar entre os países em investimentos em P&D, representando 2,3% do investimento global. Após a regulamentação da nova lei, a tendência é que centros de pesquisa universitários e empresas se aproximem muito mais.
Os mais pessimistas falam que a maior dificuldade é o Brasil não conseguir replicar ecossistemas de inovação como os das cidades de São Francisco, Berlin, Tel Aviv e Toronto. Mas são visíveis, os crescimentos das iniciativas das cidades de Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba, esta com seus dois unicórnios. É necessária, contudo, a efetiva cooperação entre governo, empresas, instituições acadêmicas e sociedade civil, para que não se desperdice esta grande oportunidade.
“A inovação é a chave para abrir sempre mais oportunidades para que as pessoas melhorem”, Clayton M. Christensen.